quarta-feira, 4 de maio de 2016

A RESPOSTA DE JESUS À TEOLOGIA DA RETRIBUIÇÃO

A Teologia da Retribuição que consiste em esperar de Deus a retribuição boa ou má às nossas ações está presente em toda a Sagrada Escritura, ganhando destaque sobretudo no livro de Jó, onde há a insistência para que o desafortunado Jó assuma que pecou diante de Deus, o que justificaria todo o sofrimento pelo qual passou, com a perda de sua família, seus filhos e seus bens. Mas Jó sabe que nada vez para merecer a ira do Senhor e não entende o que acontecia com ele para tão triste vida.

Jó se mantém fiel e no fim da vida tudo recupera de volta. Tudo em dobro. Seria a retribuição de Deus por sua fidelidade? Ele sabe que não, pois para ele as graças de Deus são dons gratuitos.

Doze homens andaram ao lado de Jesus. Comeram, sorriram (eu creio) e sofreram com Jesus Cristo. E no alto da cruz, no momento em que Cristo Senhor está prestes a entregar a sua alma a Deus, é a um ladrão que Jesus garante que "ainda hoje estarás comigo no Reino de Deus" (Lucas 23, 43).

Estaria Jesus retribuindo o quê se nada fez aquele homem para em momento tão singular merecer tão grande honra?

Agir com bondade, apenas esperando a retribuição de Deus não é a atitude que se espera de um cristão. Assim como a graça de Deus nos vem de forma gratuita e não retributiva, também o agir humano merece ser ato de graça, gesto de misericórdia.

O amor de Deus para conosco, para a pequenez de homens e mulheres que somos, é sempre fruto do Seu amor e de sua misericórdia. Isso não nos isenta de agirmos em conformidade com o que Deus nos propõe, ou seja, agirmos com amor, afinal "Deus é Amor" ("Deus caritas est"), nos diz João (Jo 1,1) e nada no Amor de Deus é retribuição, mas gratuidade.

A Teologia da Retribuição pode, a prima facie, parecer que explica tudo ou ainda que explica muitas coisas mas na verdade mascara o amor misericordioso e gratuito de Deus para conosco. Amor que o levou a se Revelar para os homens, desde os Patriarcas, passando pela experiência do Êxodo, o sofrimento e o manah do deserto, o Exílio, a queda e soerguimento do Templo, pelos Profetas, pelos Juízes, pela Monarquia Davídica, pela luta dos Irmãos Macabeus, por Jesus, onde a História da Salvação encontra seu ápice, pois "muitas vezes e de diversos modos outrora falou Deus aos nossos pais pelos profetas. Ultimamente nos falou por seu Filho, que constituiu herdeiro universal, pelo qual criou todas as coisas" (Hb 1, 1-2).

Tanto a Revelação quanto o Mistério da Encarnação são também dons gratuitos de Deus e do Seu Amor misericordioso. Tudo nos é dado de graça pelo Criador que viu que "tudo era bom" (Gn 1, 31).

Deus não precisa a nós retribuir nada. Nós, sim, enquanto criaturas, devemos retribuir no exercício da fé a presença amorosa e misericordiosa de Deus em nossas vida, afinal como dia o Salmista (Sl 8, 4a): "Quem é o homem mortal para que dele Te lembres?".


Paulo César dos Santos, 45 anos, bacharelando em Teologia do Instituto de Teologia São João XXIII - Diocese de Estância, Forania de Estância - Sergipe. 04 de maio de 2016, 168º aniversário de Estância.

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